Por Wesley Lobo
COMUNICAÇÃO
COMUNI CAÇÃO
COMUN IC AÇÃO
COM UNIC AÇÃO
COM UNI CA ÇÃO
COMUNICA ÇÃO
COM UNICAÇÃO
Comum ir com a Ção
é como ir como são,
com Unica, é chão
Comum ic! Ação!
Como ni, cá são
Como Nica, Ção
Comum ICA, ação.
Com uni caça o.
Como Uni caça
o ão
quando a comun
ICA são
E como Nica,
Ni Ca Ção.
A Ção comunica
Como Nica à São.
COMUN IC AÇÃO
COM UNIC AÇÃO
COM UNI CA ÇÃO
COMUNICA ÇÃO
COM UNICAÇÃO
Comum ir com a Ção
é como ir como são,
com Unica, é chão
Comum ic! Ação!
Como ni, cá são
Como Nica, Ção
Comum ICA, ação.
Com uni caça o.
Como Uni caça
o ão
quando a comun
ICA são
E como Nica,
Ni Ca Ção.
A Ção comunica
Como Nica à São.
COMUNICA, AÇÃO!
Este texto nasce com o intuito de estabelecer um diálogo entre comunicação e acessibilidade; perguntando o que se pode construir de comunicação acessível e como produzir acessibilidade a partir da comunicação, ou produzir uma comunicação a partir da acessibilidade.
Pretendo abordar alguns trabalhos de terceiros, para referenciar comunicação e acessibilidade e, sobretudo, apresentar um trabalho realizado pela fonoaudióloga Beuttenmuller, que desenvolveu um método de aprendizagem chamado MEDB – Método Espaço Direcional Beuttenmuller, importante pesquisa que produziu resultados surpreendentes a partir da educação com pessoas deficientes visuais.
O MEDB consiste em fazer com que pessoas cegas tenham uma leitura específica sobre determinadas coisas, produzindo estímulos sensíveis (olfato, paladar, tato, auditivo, etc.) para criar uma memória mental, com o intuito de fazer com que pessoas cegas compreendam melhor um objeto, uma palavra, um algo que a visão em si não pode oferecer como informações valiosas e necessárias para a compreensão de determinada “coisa”.
Conheci o método a partir de uma sugestão de leitura numa disciplina de voz na faculdade, o que me levou a querer escrever em cima da questão comunicação X acessibilidade, procurando abordar diferentes percepções sobre a comunicação e suas possibilidades-fins acessíveis.
Pensar uma comunicação que aborde a acessibilidade como ferramenta chave no entendimento daquilo que se queira comunicar é também expandir horizontes para pensar como construir uma diferente forma de produzir comunicação. Sobretudo acreditando que a acessibilidade pode potencializar a informação, ou o ato de comunicar. E que este processo de aprender uma nova forma de comunicar é também aprender novas formas de formar, ou educar.
Compreender a acessibilidade como a garantia de acesso a um bem, que comumente se falta e se nega, expande as possibilidades de utilização da comunicação, e produz no outro, um outro processo de educação.
A pesquisa da fonoaudióloga Beutenmuller traz referências claras no texto utilizando da palavra e suas significações; traz uma compreensão diferenciada sobre diversas formas de pensar e perceber comunicação. Sobretudo quando aporta que é possível preencher “vazios descritivos” de uma realidade que aparentemente é obstruída pela visão, e no caso, pela falta da informação que a visão produz, quando de pessoas cegas. É naturalizado pensar que pessoas deficientes são especiais e por esta questão precisam de determinados cuidados e/ou tratamentos que supram sua deficiência, e mais ainda naturalizado é pensar, por exemplo, que pessoas deficientes visuais vêem o mundo de forma diferenciada, e por conta de sua deficiência, sua visão do mundo é também “uma visão deficiente”.
O artigo escrito por uma professora de teatro do Rio de Janeiro, sobre o M.E.D.B e suas contribuições no fazer artístico e teatral, traz uma reflexão importante sobre a compreensão desse tipo de situação, no universo de uma pessoa deficiente. Apresenta então, pautada na pesquisa de Beutenmuller, que embora pessoas cegas possuam um recurso a menos na leitura do mundo, a visão, seus outros sentidos, como tato, paladar e audição, são aguçados de forma a traduzir as informações do mundo de forma muito mais intensa e sensível do que as percepções de uma pessoa vidente. Não que uma seja menos que outra, mas que, no campo da compreensão da acessibilidade, há uma grande diferença entre os meios aos quais se obtêm informações sobre as coisas do mundo, “na visão de uma pessoa vidente”, “e na visão de uma pessoa deficiente visual”.
A pesquisa ainda nos mostra os processos a que chegaram o método BEUTENMULLER, e como os resultados influíram diretamente numa percepção apurada e contundente sobre diversas formas possíveis de se empreender/compreender comunicação.
Na linguagem do método, e nas experiências de uma pessoa cega, as informações que antes a visão traria de forma definitiva e clara são percebidas por outros meios e outros sentidos. Apoiada em outra pesquisa, Beutenmuller traz ao entendimento de seu método, que uma pessoa vidente, no âmbito da visão como uma configuração potente de compreensão da realidade objetiva e palpável, possui uma informação imagética que a faz imprimir mentalmente um conjunto de percepções subjetivas sobre determinada coisa a qual esteja percebendo, e que por conta disto, possui uma forma de entender, perceber e assimilar as informações. Enquanto uma pessoa vidente vê e imprime mentalmente as expressões e entendimentos daquela percepção a partir da visão; na pessoa cega essas impressões mentais são causadas por estímulos diversos, a partir do corpo e de outras nuances.
Olfato, tato e paladar são estimulados a fim de gerar determinadas percepções sobre algo, para que se possa aprender sobre aquilo (aquilo inclusive que nunca se havia visto, ou aprendido por conta da falta da visão)
Em um dos casos que fizeram surgir o M.E.D.B, uma professora cega pediu à fonoaudióloga, criadora do método, que a ensinasse palavras que não sabia. O método foi ganhando corpo a partir das investigações de “como fazer uma pessoa cega entender o que seja a lua, sem nunca tê-la visto”.
Outra percepção importante da fonoaudióloga quando da aplicação do método e do aprendizado de pessoas cegas, é a falta de informação que essas pessoas possuem em relação a determinadas características que ajudam a identificar um objeto, um corpo, ou um algo, como profundidade, espaço, dimensões como altura comprimento, etc. O método foi abordado de forma a compreender diferentes possibilidades de produzir comunicação acessível ousando resultar que uma pessoa cega aprendesse determinadas coisas que nunca havia aprendido antes por conta de sua aparente limitação.
Não somente os sentidos mais comuns produzem informação e referências para o entendimento de algo, como a visão, mas o corpo também, e para além do corpo outros estímulos são possíveis para produzir tal resultado. O cheiro, a textura de determinado material, o peso, a largura/tamanho, são importantes aliados na aprendizagem com o M.E.D.B, e que nos trazem uma possibilidade maior de enxergar comunicação, não somente possível nos meios habituais as quais acontece, de forma corriqueira; trazem expansão de que há outros caminhos traçáveis na produção de uma comunicação com sentido, e acessível, de informações com sentido; com o intuito não somente de comunicar, mas também de fazer sentir.
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