Por Diego Furtado
Em 1º de abril de 1964,
momentos seguintes ao golpe civil-militar que ocorreu no Brasil, diversas sedes
de entidades políticas foram alvos de demolição e incêndios por parte daqueles
que tomaram o poder. Entre essas entidades se fazia presente uma das principais
forças políticas daquele período, a entidade estudantil responsável por
representar todos os estudantes do país, a União Nacional dos Estudantes (UNE).
Nesse dia a UNE teve sua sede incendiada pelos militares e diversos militantes
presos. Jorge Luis Guedes em entrevista no site da UNE relata tal
acontecimento: “Eu estava aqui naquele
dia. Nós tivemos uma noite de trevas. Eles vieram, tocaram fogo, tacaram tudo
na rua e destruíram tudo”.
Jorge Luis Guedes, militante
durante anos da UNE, lembrou também da demolição do prédio em 1980. Todo
autoritarismo sobre o movimento estudantil e os demais movimentos sociais vinha
com intuito de reprimir qualquer mobilização dessas organizações naquele
período, em que o governo se aproveitava desse mecanismo para adotar políticas
que beneficiavam os grandes empresários e prejudicavam os mais pobres.
O crescimento da desigualdade
social nesse período é uma das consequências dessas políticas. Em reação a isso
diversos movimentos sociais se manifestaram contra a perda de direitos e a
péssima qualidade de vida. No entanto, a repressão sobre essas mobilizações foi
algo recorrente durante a Ditadura Civil-Militar, principalmente após o Ato
Institucional número 5 (AI-5), que levou à perda dos direitos políticos,
principalmente com a suspensão do habeas
corpus por crimes de motivação política. Isso levou a diversas prisões
arbitrárias, intensificação das perseguições políticas, da tortura e dos
assassinatos por parte dos militares.
É nesse contexto que o
movimento estudantil está inserido como um movimento social que foi perseguido
pelas forças do regime ditatorial brasileiro, e consequentemente veio a sofrer
as piores consequências diante dessa situação. Um dos principais momentos que
marca isso sobre o movimento estudantil é o Congresso Nacional da UNE de 1968,
em que estudantes do Brasil inteiro se reúnem para decidir os próximos passos e
lutas da entidade, em Ibiúna, no estado de São Paulo, em que milhares de
estudantes foram presos pelas forças militares. Entre os presos, estavam os
líderes do movimento: José Dirceu, presidente da UEE, Luís Travassos,
presidente da UNE, e Vladimir Ribas, presidente da União Paulista de Estudantes
Secundários.
Depois de 55 anos, o fantasma
do autoritarismo da Ditadura Civil-Militar de 1964 volta a assombrar o Brasil,
os movimentos sociais e em especial o movimento estudantil, organização que
mesmo com toda aquela repressão daquele período, sobreviveu e deu continuidade às
suas lutas por direitos e pela defesa destes até os dias de hoje. No entanto, o
mesmo movimento estudantil volta a se deparar com esse fantasma que vem se
aprochegando em nossa sociedade através do atual governo federal e de seus
aliados.
Em entrevista, durante o mês
de outubro de 2019, o filho do atual presidente, Eduardo Bolsonaro, afirmou que
caso a esquerda radicalize, um novo Ato Institucional nº 5 poderá ser
instaurado em nossa sociedade. Além desse, o ministro da Economia do atual
governo, Paulo Guedes, também veio a mencionar seu possível retorno: “Não se
assuste se alguém pedir o AI-5”.
Características de um governo
ditatorial também se apresentam nos dias de hoje, como censuras a filmes, peças
de teatro e exposições. Podemos citar a censura ao filme do diretor Wagner
Moura, “Marighella”, além de exposições como “O que pode um casamento (gay)?”,
que foi retirada do Centro Cultural do Banco do Nordeste a mando do governo
federal. Todos os elementos presentes nessas ações do atual governo e de seus
aliados nos fazem refletir sobre o autoritarismo do passado que aparentemente
vem sendo instaurado aos poucos no presente.
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